“Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si
mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a
sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Pois
que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que
dará o homem em recompensa da sua alma”? (Mateus 16:24-26)
São com estes versículos que iremos
caminhar nas palavras do nosso mestre que sempre tinha algo importante a nos
dizer, mesmo quando sua fala era mais dura. Em tempos onde o individualismo tem
sido a grande marca da contemporaneidade, Cristo diz algo que vai contra nosso
ego quando nos desafia a abnegação como fator sublime aos que adentram ao Reino
de Deus.
É interessante notarmos que seguir a
Cristo, é muito mais do que um simples levantar de mãos, ir à frente durante um
apelo ou algo semelhante. É trilhar por um caminho sem volta e estar aberto
para novas possibilidades de existir e de ter sua essência transformada pelo
Espírito Santo de Deus.
Em nosso andar diário homens e
mulheres são chamados a renunciarem seu egoísmo em prol do Reino de Deus. Na
lógica do Reino, aquele que perde sua vida por amor a Cristo, encontra-se e
nunca mais se perde. Ainda que possamos trilhar por curvas sinuosas e cheias de
perigos, temos a confiança de que Ele não nos deixa pelo caminho.
A salvação é muito mais que
meramente sairmos ilesos do fogo ardente do inferno como comumente se imagina.
Este pensamento medievalista que amedronta ao invés de gerar em nós a shalom de
Deus, não pode ser considerado evangelho. Vivemos dias difíceis nesta sociedade
cada vez mais doente e violenta.
Na reflexão do sociólogo Zygmunt Bauman lemos:
“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”. Daí podemos observar que o mundo
vive constantes mudanças que tem levado diversas pessoas à solidão, ao estresse,
síndrome do pânico e tantas outras mazelas que esta sociedade tem produzido com
seu lixo biopsicosócioespiritual. Esta mesma sociedade que cria suas mazelas é
a mesma que precisa mantê-la refém de si mesma para obter adeptos dos
psicotrópicos que faturam bilhões com as doenças que ela cria.
Porém, a proposta de Jesus nos
evangelhos é a do despojamento do ser e do encontro com a vida. Entenda que
esta vida não é algo subjetivo e alienante, mas um encontro com uma pessoa.
João no seu evangelho compreendeu perfeitamente isto quando escreveu estas
palavras de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”.
Em um mundo cada dia mais complexo,
somos levados a ressignificarmos nossa jornada de fé ao lado de Jesus e de
seguirmos o caminho da renúncia, não como um fardo e jugo pesado, mas como
aqueles que receberam à vida em nossos corações e mentes para demonstrarmos que
vale a pena caminhar apesar das intempéries desta vida.
Marco Carvalho