4 de julho de 2012

(In)Certezas num mundo sem Deus

   

         O mundo em que vivemos parece estar de pernas para o ar. Tantas coisas acontecendo ao nosso redor que sequer paramos para sentar com nossas famílias para desfrutarmos das refeições diárias que fazemos. O que deveria ser um momento de comunhão e partilha entre a família, muitas vezes se torna um ritual vazio e mecânico de saciar o desejo da fome e nada mais. As conversas realizadas na sala ou na mesa de jantar praticamente estão extintas dos lares. O que se vê nos novos modelos familiares é o retrato de nossa sociedade contemporânea. Observamos pessoas cada vez mais individualistas, egocêntricas, solitárias e vivendo para seu próprio deleite em detrimento da coletividade.
         Os momentos de refeições nos lares viraram reuniões para satisfazer a fome. Não se percebe mais o aroma do café, as cores das frutas, o sorriso dos filhos, o abraço dos pais, o beijo dos avós e a benção de Deus de sentar-se para comer. Entendo que muitas famílias em nosso país não podem usufruir desta dádiva, não por causa dos seus pecados, mas devido as perversidades dos homens em institucionalizar a iniquidade em nosso país com o intuito de angariar votos nas eleições. O que precisamos celebrar nas refeições não é propriamente a comida que podemos ter ou não ter, porém, a beleza de vivenciarmos uma espiritualidade sadia com o simples acordar e agradecer pela graça de Deus de olharmos para nossa família e termos a convicção de que dias melhores virão.
        Nos evangelhos encontramos Jesus em muitos relatos sentado a mesa comendo e bebendo com as pessoas, a tal ponto dele ser chamado de comilão e beberrão por seus opositores. Encontramos em Jesus um belo exemplo de como devemos vivenciar nossos encontros de refeição em nosso lar. Nesses encontros de comensalidade podemos nos surpreender com os gestos singelos e ao mesmo tempo espirituais que Jesus dava no simples ato de comer. Comer era uma celebração de vida e comunhão na cultura judaica. Precisamos resgatar este mesmo sentimento em nossas alimentações diárias que realizamos, se quisermos de fato mergulharmos na intimidade do outro e conhecê-lo de verdade. Quantos lares hoje em dia em que as pessoas parecem estranhas uma das outras mesmo morando na mesma casa?
       A tecnologia ao invés de aproximar as pessoas num relacionamento mais íntimo, ela tem proporcionado o sentido inverso. Cada dia que passa, os relacionamentos estão ficando frios, superficiais e sem significado. As famílias almoçam e jantam em cômodos separados e cada qual em silêncio e ocupados com seus afazeres sem importar-se com o outro. A falta de diálogo em família é um grande dificultador na solução de problemas que poderiam ser evitados se houvesse relacionamento dentro de casa.
        A sociedade pós-moderna com seu relativismo tem gerado lares distanciados das coisas simples da vida e contribuído para difundir aquilo que de pior existe no ser humano que é a indiferença. Tem nos faltado sensibilidade com a vida e temos nos tornado mecânicos nos relacionamentos e não buscamos o aprofundamento nos diálogos, pois, tal coisa implica em abrir-me em direção ao outro e estar disposto a desconstruir mitos e mecanismos de defesa que minha mente cria consciente ou não para evitar que minhas fragilidades sejam descobertas e assim me mostre fraco. Numa sociedade capitalista e consumista como a nossa, mostrar-se fraco e dependente é cometer suicídio e ser considerado um excluído social.
       Entretanto a proposta do evangelho é uma resposta contrária a essa lógica predatória e iníqua que tem gerado mazelas sociais, emocionais, existenciais e espirituais em todas as esferas da sociedade. No texto de filipenses 2:5-11, encontramos um dos relatos mais sublimes do redentor em revelar-se como um de nós e de estar sujeito a todas as contradições humanas com seus paradoxos e perplexidades. Verdadeiramente, podemos afirmar que Ele sabe o que é ser um de nós. Estar limitado a tempo e espaço, a dor, ao sofrimento, ao choro, a alegria, as lágrimas e a morte. Sim! Ele morreu e experimentou aquilo que mais nos amedronta e para o qual não fomos destinados a conhecer. Que possamos agir com uma mentalidade cristã e apresentarmos um caminho seguro neste mundo cheio de incertezas.

Marco Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário