14 de junho de 2011

Em busca da simplicidade na espiritualidade


O que tem acontecido com as pessoas neste século marcado pela tecnologia e avanços científicos nunca vistos anteriormente? Os meios de comunicação nos levam aos lugares mais longínquos e que jamais sonhamos um dia estar. Entretanto, apesar dessa gama de informações que recebemos, temos desaprendido e retirado do nosso convívio práticas espirituais que tornam a vida mais frutífera e simples para viver.
Parafraseando Luther King, eu também tenho um sonho. De nos lembrarmos de um passado não tão distante em que homens e mulheres dialogavam mais e se trancafiavam menos, sinto falta das conversas nos portões do vizinho que duravam horas e de como aprendíamos coisas relevantes para nossa vida. Sinto falta do chão de terra onde vislumbrávamos as crianças jogando bola, correndo uns atrás do outro, soltando pipa. Alguns vão dizer que é saudosismo e que este tempo não volta mais. Talvez seja verdade essa afirmação, porém o que temos oferecido como troca deste modelo “antigo”, tem gerado pessoas que vivem em seus apartamentos onde os diálogos entre família são quase inexistentes. Trocamos o chão de terra pelo asfalto, pela sensação de segurança, pelos playgrounds, pelos fast-foods da vida que vendem alimentação rápida, porém sem substância.
E nesta filosofia de vida tem caminhado a espiritualidade cristã no cenário brasileiro; sem conteúdo e etérea. Falta-nos chão onde possamos andar e sujar nossos pés no barro e se preciso for até na lama. Penso que um modelo bem pertinente é a imagem de Moisés tirando as sandálias dos pés para entrar no lugar santo para falar com Deus através da sarça ardente. Acredito que as entrelinhas deste texto nos descortinam alguns véus que deixam nossos olhos obscurecidos de entendimento e fechados em nós mesmos. Tirar as sandálias é ficar a vontade na presença do grande “Eu sou” e sentir-se bem com isso. Afinal de contas, é assim que devemos de fato estarmos diante de Deus. Sem barganhas e sem reservas. Entre, pois este chão é teu também e de todo aquele que quiser entrar.
O processo de urbanização das grandes cidades é bem verdade que trouxe muitos avanços para as pessoas, porém, neste bojo vieram as mazelas sociais e também espirituais no coração humano e distante da proposta de Deus de nos sentirmos acolhidos pelo simples toque de alguém. Os asfaltos das cidades têm endurecido nossos corações e tirando-nos a sensibilidade de compartilharmos o belo cair das folhas de uma árvore, do vento tocar nos rostos, dos cantos dos pássaros e das crianças correndo nas ruas. Nos acostumamos com o barulho ensurdecedor das grandes metrópoles e já não percebemos que a beleza da espiritualidade está na simplicidade e não na suntuosidade.
Na busca de encontrarmos experiências mirabolantes nos centros urbanos que criam mais alienação do que reflexão, mergulhamos na contramão dos evangelhos que prezam a simplicidade das pombas. Entretanto, a sociedade hodierna cada vez mais voltada para si se esquece de seu semelhante e em nome da individualidade perdemos o senso de coletividade tão singular na ótica de Cristo. Que possamos tirar as sandálias como fez Moisés e pisarmos no chão e sentirmos esse contato com o solo numa perspectiva de aproximação com a vida e com aquilo que realmente seja edificante e substancial. Amém.
Marco Carvalho

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