Crianças criadas fora do
casamento tendem mais a abandonar a escola e usar drogas
A família tradicional nos EUA
está em crise. Menos da metade dos lares americanos é chefiada por casais
casados. No Brasil, embora em escala menor, a situação não é menos chamativa. O
mapa da família brasileira mostra uma tendência comportamental na linha da
informalidade matrimonial. O debate está aberto. O legislador e a sociedade
devem buscar ativamente maneiras de apoiar o casamento? Ou, ao contrário, devem
oferecer mais direitos e benefícios às fórmulas alternativas de uniões?
Para a jurista Leah W. Sears,
ex-presidente da Suprema Corte do estado da Geórgia, “um direito de família que
não incentiva o casamento ignora o fato de que ele é associado a um amplo leque
de resultados positivos — tanto para crianças como para adultos”. A seu ver,
“os índices elevados de fragmentação da família estão prejudicando as
crianças”. E conclui a juíza: “Claro, muitos pais solteiros fazem um excelente
trabalho e precisam do nosso apoio. Mas acredito que construir uma cultura do
casamento saudável é uma preocupação legítima para o direito da família.”
Concordo com a opinião de Leah W.
Sears. A balança do bom senso pende para o lado da família. E a experiência
confirma a percepção. Estudos mostram que crianças criadas fora do casamento
estão mais propensas a abandonar a escola, usar drogas e envolver-se em
violência. O Child Trends, um instituto de pesquisa americano, resumiu: “Filhos
em famílias com um só dos pais, filhos nascidos de mães solteiras e filhos
criados na nova família de um dos pais ou em relações de coabitação enfrentam
riscos maiores de ficarem pobres.” Contra fatos não há argumentos.
Falta de limites e tolerância
mal-entendida produziram muitos estragos. Alguns educadores, pais e psicólogos
gastaram a maior parte dos seus esforços no combate à vergonha e à culpa,
pretendendo que os adolescentes se sentissem bem consigo mesmos. O saldo é uma
geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da
impunidade têm gerado uma onda de superpredadores. A formação do caráter,
compatível com o clima de autêntica liberdade, começa, aos poucos, a ganhar
contornos de solução válida.
Ao Estado, como é lógico, compete
fortalecer, e não enfraquecer o núcleo familiar. Trata-se de uma
responsabilidade que deve ser exigida e cobrada pela sociedade e pelos
eleitores. A crise ética que castiga amplos segmentos da vida pública
brasileira, fenômeno impressionante e desanimador, tem seu nascedouro na crise
da família.
Os homens públicos não são fruto
do acaso, mas de sua história. Crianças que crescem num ambiente de busca
obsessiva de dinheiro, conforto e poder, sem limites e balizas éticas, serão os
delinquentes da vida pública de amanhã. A corrupção sem precedentes que
fustigou o noticiário do ano passado e promete novas emoções no ano que começa
tem raízes profundas. O trabalho da imprensa, do Judiciário, do Ministério
Público e da Policia Federal é importante, sem dúvida. Mas a virada ética,
consistente e verdadeira, começa na família.
A todos, sem ceder ao pessimismo, excelente 2015!
Carlos Alberto Di Franco é diretor do Departamento
de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais
http://oglobo.globo.com/opiniao/aposta-na-familia-14957016
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