12 de agosto de 2011

Por uma Pastoral mais afetiva

              
             
       No processo do desenvolvimento humano, aprendemos que o ser humano é muito mais do que seus próprios instintos. E que o processo de tornarmos pessoa é uma longa caminhada de frustrações, vitórias, decepções, conquistas, amor, ódio, perdão, raiva e tantos outros sentimentos inerentes a homens e mulheres. Os desafios encontrados ao longo de nossas vidas são positivos, pois eles nos proporcionam a ocasião necessária para um amadurecimento e melhoria da realidade de cada um de nós.
      Na vida cristã contemporânea somos desafiados cotidiamente a encontrarmos respostas das mais variáreis possíveis sobre os problemas que a sociedade tem enfrentado. E nem sempre temos tido cuidado com o outro na elaboração dessas respostas. Elas não parecem refletir a realidade atual e sempre são carregadas de farisaísmos e condenação. Sem uma percepção holística do ser humano, caímos em repetições das respostas e não conseguimos avançar para um caminho mais consistente.
         Acredito que um caminho possível para construirmos relacionamentos mais saudáveis, seria o da afetividade. Nos evangelhos encontramos na pessoa de Cristo um dos discursos mais belos sobre o afeto. O texto para nossa reflexão é o da mulher pega em adultério que encontramos em (Jo 8:1-11). Ainda que este texto na verdade comece em Jo 7:53 e que em muitos manuscritos este relato tenha sido algum acréscimo, nossa caminhada não será exegética, mas sim da pastoral.
       Enquanto não desenvolvermos uma pastoral mais afetiva em nossas comunidades, estaremos gerando pessoas quebradas emocionalmente e espiritualmente. Os nossos olhos precisam ser rápidos em perceber o que está oculto e termos a sensibilidade de lermos a vida nas entrelinhas do ser para desvendarmos o que aflige o coração das pessoas.
      Ainda precisamos reler os textos bíblicos onde Jesus nos ensina o caminho da afetividade nos encontros com homens e mulheres que cruzavam seu caminho e que eram transformadas pela singeleza de seu coração e pela transbordante graça que imanava de seus lábios aptos a promover justiça e perdão naqueles que se permitiam ser achados por ele.
          Para uma pastoral afetiva se faz necessário amadurecermos e reconhecermos o quão distantes estamos ainda da vontade de Deus em proporcionar cura para os relacionamentos em nossas comunidades e principalmente para o mundo que chora suas misérias escondendo-se da realidade e fugindo de suas mazelas.
       Neste processo de amadurecimento, é no relacionamento, no diálogo e principalmente no afeto que homens e mulheres aprendem a vivenciar de forma madura e objetiva o valor dessas experiências. O dialogo do afeto é primordialmente uma abertura para o outro. São nesses diálogos que a pessoa aprende a mediar o seu desejo e seus limites.
        Segundo o sociólogo Bauman: “O que aprendemos com a amarga experiência é que essa situação de ter sido abandonado à própria sorte, sem ter com quem contar quando necessário quem nos console e nos dê a mão, é terrível e assustadora, mas nunca se está mais só e abandonado do que quando se luta para ter a certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar, amanhã e depois, para fazer tudo isso se quando a roda da fortuna começar a girar em outra direção”.
       Só caminharemos se passarmos pela experiência de enxergármos o outro não mais com nossas lentes que muitas vezes estão embaçadas, mais quando permitirmos que o olhar do Cristo de fato seja nosso referencial de vida. Que sejamos como o Mestre do afeto para lidarmos com os pré-conceitos estabelecidos por nós mesmos. Graça e paz!

Marco Carvalho

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