Já me perguntaram isso algumas vezes ao longo dos anos e, recentemente, essa questão surgiu novamente. Homossexuais podem ser cristãos? Ou, melhor, existe algo como um “cristão homossexual?”. Muitos acreditam que alguém que se envolve em um estilo de vida homossexual está necessariamente excluído do Reino de Deus, a não ser que se arrependam. E o arrependimento aqui significa uma mudança de pensamento rapidamente seguida de uma mudança no estilo de vida. Em outras palavras, enquanto alguns vão dizer que um homossexual pode ser salvo, a salvação garantiria uma mudança de vida em um período curto de tempo.
Enquanto eu concordo com aqueles que dizem que o homossexualismo é um pecado terrível (Levítico 18.22, 20.13; Romanos 1.27; 1 Coríntios 6.6; 1 Timóteo 1.10), eu não creio que ele esteja além da carnalidade do crente. Também não acredito que, se alguém pratica o homossexualismo por toda sua vida, está necessariamente excluído do Reino de Deus. Espero que ninguém confunda o meu argumento. Eu, de forma alguma, apóio o comportamento homossexual ou procuro relativizar seu aspecto abominável perante o Senhor. Mas eu penso, sim, que nós que não somos tentados dessa forma muitas vezes falhamos em enxergar a seriedade da luta que as pessoas que cometem esse pecado enfrentam.
O pecado e a tentação sexual é uma parte da vida de qualquer um. Nascemos com uma inclinação a satisfazer essa parte de nossa humanidade criada por Deus. Alguns irão suprimir essa inclinação por causa de um chamado de Deus para suas vidas (celibato, por exemplo). De qualquer forma, o pecado corrompeu essa inclinação e todos nós nascemos infectados pelo pecado. Por conta de estímulos, genética, influências culturais e outros fatores, pessoas experimentarão essa corrupção de diferentes formas. Pessoalmente, nunca senti nenhuma inclinação para expressar minha corrupção sexual de alguma forma focada no mesmo sexo. Por quê? Não necessariamente por causa das boas escolhas que eu fiz, mas porque a genética, os estímulos e as influências não levaram a isso. Eu nunca tive aquela inclinação pecaminosa que gerasse em mim uma atração por alguém do mesmo sexo. Não me entenda mal. Eu tenho uma inclinação sexual pecaminosa, mas é mais do tipo comum. Isso não se justifica nem me faz mais justo que um homossexual; é simplesmente um fato que é um pecado que eu nunca tive que enfrentar.
Agradeço a Deus por ser esse o caso porque eu sei que qualquer inclinação pecaminosa que eu tenha eventualmente vai levar o melhor de mim. É assim que funciona uma vida corrompida. Eu também sei que não serei liberto totalmente das minhas inclinações até que ocorra a restauração do meu corpo na ressurreição. Eu só preciso fazer o que for possível para controlá-las até que isso aconteça. E, como diz a música do U2, “alguns dias são melhores que os outros” [some days are better than others]. Eu consigo me identificar com outros pecadores porque sou um também. Eu consigo me identificar com aqueles que possuem uma inclinação porque eu também tenho uma (várias, na verdade). Assim, quando vejo alguém cedendo à inclinação do homossexualismo, me entristeço. Compadeço-me deles porque o problema é, essencialmente, o mesmo que o meu. Temos uma natureza corrompida que nos faz suscetíveis a essas inclinações.
Agora, de volta à questão do momento. Homossexuais podem ser cristãos? Essa é uma questão teológica que evidencia uma falta de entendimento do pecado e da redenção. Ela revela um grande engano sobre a natureza do pecado ao colocar o homossexualismo em sua própria categoria separada, por causa de sua natureza depravada. Se, por um lado, eu acredito que o homossexualismo é um pecado pior do que muitos outros (isso mesmo, nem todos os pecados são iguais, como alguns de nós acreditam), por outro, não acredito que aquele que possuem essa inclinação deveriam ser vistos de forma diferente dos outros.
Nós poderíamos elaborar a pergunta da seguinte forma: pessoas que tem inclinações pecaminosas podem ser cristãs? É claro. Quem mais poderia? Cristo foi o único que nunca teve uma inclinação pecaminosa. Tudo bem então, que tal assim: pessoas que tem inclinações pecaminosas realmente ruins podem ser cristãs? Novamente, a única resposta bíblica é sim. Pessoas que tem inclinações pecaminosas realmente ruins podem ser cristãs. No fundo, a pergunta que está sendo feita é: pecadores podem ser cristãos? Novamente eu digo, quem mais poderia ser?
Alguns podem responder dizendo que, mesmo que admitam que homossexuais possam ser cristãos, eles precisam passar por um processo de superação do comportamento pecaminoso. Em outras palavras, eles precisam demonstrar uma consistente e perpétua vitória sobre essa inclinação. Espera aí. Enquanto eu concordo que os homossexuais podem vencer essa inclinação, e muitas vezes, de fato, vencem ao ponto de abandonar totalmente esse estilo de vida, eu não penso que necessariamente é isso que vai acontecer. Eu diria que na minha vida há inclinações que eu sinto que já venci e há outras que permanecem como uma teia de aranha, grudentas e persistentes. Essa é uma teia de engano e destruição que pode facilmente nos aprisionar. Veja o que diz o livro de Hebreus:
“Portanto, nós também, pois estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” Hb 12.1-2
O escritor de Hebreus fala que essa teia “nos rodeia”. A passagem, no original, fala do ten euperistaton hamartian – literalmente, “o pecado que captura”. Eu acredito que a referência principal do “pecado que [nos] captura” é o pecado da descrença (o assunto do livro), mas esse pecado da descrença se manifesta no pecado particular. Em outras palavras, o pecado da descrença nos leva a praticarmos nossas inclinações particulares. E, além de tudo, somos “rodeados” por isso. Novamente: enquanto eu concordo que os homossexuais podem e devem vencer esse pecado, pode acontecer de a batalha não ser tão simples assim. Essa batalha pode ser uma luta contra os próprios atos do homossexualismo ou uma luta constante contra os desejos até o fim da vida. E isso não é diferente para nenhum cristão que não tenha inclinações para uma vida de homossexualismo. Muitos de nós temos outras sérias inclinações que podem nos perseguir até a vinda do Reino.
Muitos se referem à exortação de Paulo aos coríntios para olharem para as vitórias sobre o pecado, como se dizendo que eles não praticassem mais tais coisas ou estivessem totalmente livres delas. Um desses pecados é o do homossexualismo.
“Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus.” 1 Coríntios 6.9-11
Por mais que isso pareça ser bem direto após uma leitura mais rápida, não creio que esse trecho apóie a idéia de que homossexuais não possam ser cristãos por duas razões principais. Primeiro, as pessoas para quem Paulo estava escrevendo eram pecadores e estavam sendo exortados por Paulo. Olhe o que ele escreve três capítulos antes:
“Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos?” 1 Coríntios 3.1-3
Eles eram carnais. Os pecados descritos em 6.9-10 são pecados carnais. Isso significa que os coríntios não estão indo necessariamente muito bem. Mesmo assim, Paulo fala que eles eram lavados e santificados. Dessa forma, ou Paulo sofria de algum tipo de amnésia ou nós precisamos entender 6.9-11 de forma diferente, o que nos leva à segunda razão pela qual acredito que essa passagem não possa ser usada para sustentar a idéia de que homossexuais não possam ser cristãos. Paulo identifica os cristãos com Cristo, não com a sua disposição pecaminosa. No pensamento Paulino, aqueles que foram envolvidos pela justiça de Cristo não são mais identificados de acordo com suas inclinações pecaminosas, mesmo que essas inclinações continuem a envolvê-los. Os coríntios estavam envolvidos com suas inclinações, mas Paulo os enxerga através da justiça de Cristo. É por isso que Paulo poderia dizer “assim foram alguns de vocês”. Isso não fez que os pecados fossem menos severos, mas isso significa que a redenção de Cristo, na teologia Paulina, redimiu o pecador, mesmo ainda em estado de pecado. Aqueles que não possuem a cobertura da justiça de Cristo ainda são identificados pelos seus pecados perante os olhos de Deus. Logo, entendendo esse contexto, é verdade, imorais, ladrões, adúlteros, homossexuais e todos os outros ímpios (que não estão cobertos pela justiça de Cristo) não herdarão o Reino de Deus. Mas, ainda bem, nós fomos cobertos pela justiça dele e fomos separados, mesmo sendo ainda pecadores. Mais uma coisa. Muitas vezes eu ouço essa concessão: tudo bem, eu acredito que homossexuais possam ser salvos, mas eles não podem acreditar que seu pecado é aprovado por Deus ou tentar justificá-lo. Por mais que eu entenda e concorde até certo ponto com isso, ainda tenho algum cuidado e acho que isso não é sempre o caso. Todos nós temos maneiras de justificar nossas inclinações, seja lá quais sejam elas. Às vezes, nós minimizamos o peso delas e, às vezes, simplesmente as negamos. Também é comum que a situação seja tal que nós simplesmente não as tratemos de forma alguma. Pedro viveu doze anos após a ressurreição de Cristo justificando sua crença de que os judeus eram melhores que os gentios.
Ele viveu por doze anos após se tornar um cristão acreditando que, por ser um judeu, era tão melhor que os gentios que não poderia pisar na casa de um. Falando a Cornélio, um gentio, e a sua família, ele disse “Vocês sabem muito bem que é contra a nossa lei um judeu associar-se a um gentio ou mesmo visitá-lo. Mas Deus me mostrou que eu não deveria chamar impuro ou imundo a homem nenhum.” (Atos 10.28). E se Pedro tivesse morrido no ano onze? Ele teria morrido após viver toda a sua vida cristã sendo um racista orgulhoso. No Novo Testamento, o racismo é considerado muito mais ímpio que o homossexualismo. Logo, por mais que eu acredite que a convicção do Espírito Santo deva estar lá e vai mudar nossos corações, nós temos essa grande inclinação a justificar nossa pecaminosidade para nós mesmos, para os outros, ou simplesmente ignorá-la.
Tendo dito tudo isso, é necessário reconhecer à profunda pecaminosidade da perversão sexual. Homossexualismo é um pecado, e um dos mais destrutivos. Mas precisamos tomar cuidado e sermos graciosos com aqueles que lutam contra esse pecado, entendendo que a luta contra o pecado é comum a todos nós. A solução é não se comprometer com a agenda politicamente correta da nossa cultura, que transforma qualquer pecado em uma escolha de estilo de vida perfeitamente aceitável, mas ao mesmo tempo, sermos graciosos, sabendo que a única esperança que alguém pode ter é ser coberto pela justiça de Cristo, não a nossa.
Um homossexual pode ser um cristão? Sim. Todos os pecadores podem ser cristãos. De fato, todos os cristãos são pecadores. Que olhemos todos para essa questão importante à luz de um entendimento profundo da luta contra o pecado e que Deus nos ajude a vencer as nossas inclinações.
“O pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo” Gênesis 4.7
Por C. Michael Patton
Fonte: iPródigo
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