Uma das grandes necessidades do ser humano é sentir-se acolhido e abraçado por alguém quando este comete algum erro. Por vezes, me pego imaginando que estes sentimentos tem se perdido em meio a tantos egoísmos que temos vivido. Dar e receber perdão, desviar-se e ser acolhido ao regressar, pedir ajuda sem se humilhar, não, não isso é utopia de quem acredita nestas bobagens de um mundo melhor. Que continuemos então como aqueles que ainda depositam sua esperança num sorriso singelo de uma criança que mesmo a chorar diante das vicissitudes da vida, conseguem através do olhar revelar a ternura existente no coração humano. Como é importante ter alguém com quem possamos chorar nossas próprias misérias e desventuras num mundo tão marcado por valores do eu primeiro. Saber que errou e ter a chance de recomeçar. Não ter que disfarçar nossas feridas sem correr o risco de sermos cerceados sob olhares acusatórios e sem misericórdia. Precisamos resgatar a beleza da ternura e do perdão como estilo de vida proposto por aquele que nos ensinou a doar-se o tempo inteiro.
Precisamos encontrar amigos nas horas de tempestades para que não fiquemos isolados como em uma ilha sem ter com que contar e compartilhar nossas dores e sofrimentos existenciais. Que sejamos brisas que toquem no outro e produzam paz e frescor em rostos tão marcados pelos infortúnios da vida. Perdoar não é esquecer, mas lembrar-se do passado sem dor. Muitos de nós não perdoamos por pensarmos que iremos aliviar a bagagem de quem foi ferido, mas na verdade o perdão não é um favor que fazemos ao outro, mas a nós mesmos.
Na dinâmica de uma espiritualidade reconciliadora, perdão e ternura devem estar lado a lado numa busca central de entrega ao próximo. Assim como Cristo foi devemos ser também. Acredito que a ternura tem cor e a sua ausência tem nos tornado sem vida e vazios na interioridade humana. A ternura é sem dúvida um lindo sentimento, repleto de flores coloridas e cada uma com suas cores, fazem deste lindo sentimento, um grande jardim de múltiplas pétalas de flores coloridas, cada qual com sua qualidade. E neste imenso jardim de nossas existências somos chamados para amarmos uns aos outros, como Cristo nos ensinou a amar. Quem sabe estejamos precisando somente de um toque que inunde nossa alma e desnude nosso ser para dar-nos um sentido de viver. Se você se sente assim não tenha medo, pois o Homem das dores nos oferece abrigo em nossas viagens tortuosas que enfrentamos e senta-se conosco para partilhar do pão que alimenta nossa alma e depois de cear Ele nos convida a celebrarmos o perdão e a ternura entre homens e mulheres que carecem de sua infinita graça.
Marco Carvalho
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