Aproximou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: “Qual é o principal de todos os mandamentos?” Jesus respondeu: “O principal é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e de todas as forças. E o segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mc 12.28-34)
A vocação da igreja é amar. Certamente, não é qualquer “amar”, mas um “amar” que se direciona a Deus e ao próximo. Isso parece ser fácil de entender. Mas não é! Temos uma forte tendência de separar radicalmente esse duplo direcionamento que caracteriza a vocação da igreja, porque estamos aparentemente convencidos de que “amar a Deus” e “amar o próximo” são duas coisas distintas e independentes uma da outra. Veja, poderíamos mostrar inúmeros exemplos de pessoas que se preocupam demasiadamente com o culto, a liturgia e a estética da adoração, e que infelizmente nada ou quase nada fazem pelo próximo. Portanto, parece razoável crer que é possível amar a Deus sem amar o próximo. Em contrapartida, poderíamos também mostrar vários exemplos de pessoas que estão mais preocupadas com as obras de caridade do que com a adoração a Deus.
Para essas pessoas, o cristianismo se reduz a acolher os carentes, os marginalizados, os discriminados, e por aí vai... Por isso, parece ser bastante razoável acreditar que é possível amar o próximo sem amar a Deus. Fato é que as coisas não são tão simples assim. É preciso entender que o “amar” que caracteriza a ação da igreja no mundo é uma vocação divina, ou seja, é um chamado, um mandamento (Mc 12.28-34). E isso faz toda a diferença, pois o “amar” da igreja não é resultado de uma tendência interna que supostamente acompanharia a essência da igreja. Pelo contrário, o “amar” da igreja deve ser resultado de sua obediência ao chamado divino. Ou seja, é Deus quem determina o modo que a igreja deve amar! E isso é o bastante para nos convencer de que, em primeiro lugar, precisamos abandonar qualquer perspectiva dicotomizadora da vocação da igreja, e, em segundo lugar, que é possível, sim, amar a Deus sem amar o próximo e amar o próximo sem amar a Deus, porém nenhum desses dois amores é o tipo de amor que Deus reivindica de sua igreja.
Entretanto, o que mais me preocupa não é a nossa tendência de separar o duplo direcionamento do amor que Deus requer de sua igreja. O que mais preocupa é que, no afã de abandonarmos nossa tendência dicotomizadora, acabemos por identificar radicalmente o duplo direcionamento do amor. Daí compreenderíamos muito mal a vocação da igreja, pois entenderíamos que amar a Deus é a mesma coisa que amar o próximo e amar o próximo a mesma coisa que amar a Deus. Recentemente, vi um líder de jovens pregando para a moçada da igreja. Ele dizia que, quando viu um menino de rua na sarjeta, estava vendo Jesus, e, ao abraçá-lo, estava abraçando Jesus, e, ao amá-lo, estava amando Jesus... Isso é muito bonito, soa agradável aos ouvidos. E dito ainda com palavras melodramáticas e lágrimas no rosto, tal discurso torna-se, para muitos, um apelo altamente piedoso! Porém, a dificuldade é patente: Como aceitar que o ato de amar o próximo seja o mesmo que o ato de amar a Deus? Jesus ensinou que não devemos confundir essas instâncias. Basta lembrarmos que, quando um de seus discípulos resmungou, porque uma mulher havia derramado um bálsamo caríssimo sobre sua cabeça, dizendo: “Para que este desperdício? Este perfume poderia ser vendido por muito dinheiro e dar-se aos pobres”, Jesus imediatamente lhe respondeu: “Ela praticou boa ação para comigo... Onde for pregado em todo mundo este evangelho, será também contado o que ela fez” (Mt 26.7-13). Nesse episódio, Jesus nos ensinou que “amar a Deus” não é a mesma coisa que “amar o próximo”.
Mas parece que teríamos ainda um problema, pois, ao que parece, no contexto da vocação da igreja, não poderíamos separar radicalmente os dois amores, nem tampouco identificá-los. Será que é isso mesmo? Sim! É isso mesmo! Ora, existem coisas no mundo que são assim, ou seja, coisas que não podemos identificá-las, mas que tampouco podemos separá-las. Por exemplo, a cor, a saturação, o brilho, o sombreamento, o timbre são coisas que não podem ser separadas de uma superfície ou de um corpo. Veja, um galho pode ser cortado de uma árvore, mas a cor vermelha não pode ser cortada da maçã.
Mas parece que teríamos ainda um problema, pois, ao que parece, no contexto da vocação da igreja, não poderíamos separar radicalmente os dois amores, nem tampouco identificá-los. Será que é isso mesmo? Sim! É isso mesmo! Ora, existem coisas no mundo que são assim, ou seja, coisas que não podemos identificá-las, mas que tampouco podemos separá-las. Por exemplo, a cor, a saturação, o brilho, o sombreamento, o timbre são coisas que não podem ser separadas de uma superfície ou de um corpo. Veja, um galho pode ser cortado de uma árvore, mas a cor vermelha não pode ser cortada da maçã.
Portanto, existem coisas que podem ser distintas, porém não podem existir separadamente. E isso vale para a vocação da igreja, pois Deus não quer que o amemos sem amarmos o próximo, nem tampouco que amemos o próximo sem amá-lo. Por isso, todas as vezes que amamos a Deus somos convocados por ele a amar o próximo, e todas as vezes que amamos o próximo somos imediatamente convocados a amá-lo. Portanto, se queremos cumprir nossa vocação, não podemos separar radicalmente o “amar a Deus” do “amar o próximo”. Esses dois amores são como a unidade de corpo e alma. Podemos distingui-los, mas jamais dicotomizá-los. Se amarmos o próximo sem amarmos a Deus, seremos como os ateus que são capazes de amar o próximo sem amar a Deus; se amarmos a Deus sem amarmos o próximo, seremos como os gnósticos que amam a alma e odeiam o corpo.
Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, a quem viu, não pode amar a Deus, a quem não viu. E dele temos este mandamento: quem ama a Deus ame também seu irmão. (1Jo 4. 20,21).
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